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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009



A dança teatro de Pina Bausch



Redançando a
história corporal
Desde 1973, quando assumiu a direcção do então Wuppertal Ballet, Bausch tem se destacado como líder de uma corrente artística de notável importância nas artes cênicas de nosso século: dança teatro.
A história da dança teatro alemã pode ser traçada a partir dos trabalhos de Rudolf von Laban e seus discípulos Mary Wigman e Kurt Jooss, nos anos 20 e 30. O termo dança teatro era usado por Laban (1879-1958) para descrever dança como uma forma de arte independente de qualquer outra, baseada em correspondências harmoniosas entre qualidades dinâmicas de movimento e percursos no espaço. Ainda que considerando a dança como uma arte independente, Laban desenvolveu seu sistema de movimento a partir de improvisações de Tanz-Ton-Wort (Dança-Tom-Palavra), nas quais os estudantes usavam a voz, criavam pequenos poemas, ou dançavam em silêncio.2 As peças de dança então criadas incorporavam movimento cotidiano, bem como movimento abstrato ou puro, em uma forma narrativa, cômica, ou mais abstrata.
Wigman fundou a Ausdruckstanz, dança da expressão. Ausdruckstanz foi uma rebelião contra o balé clássico, buscando uma expressão individual ligada a lutas e necessidades humanas universais.3 Já a dança teatro de Jooss desenvolvia temas sócio-políticos através da ação dramática de grupo e da precisão da estrutura formal e de produção.4 O treinamento de dançarinos sob sua direção na Escola Folkwang, em Essen, Alemanha, combinava música, educação da fala, e dança, usando elementos do balé clássico e as teorias de Laban de harmonia espacial e qualidades dinâmicas de movimento.
As teorias e práticas teatrais de Bertold Brecht, e seus temas sócio-políticos, são também relevantes à história da dança teatro alemã. O teatro épico criou conceitos como os de gestus, o efeito de distanciamento, a técnica da montagem, e momentos cômicos inesperados. O conceito brechtiniano de Gestus ou Gebärde enfatizava uma combinação de ações corporais e palavras como um gesto socialmente significante, não ilustrativo ou expressivo.5 Através de tais efeitos, o teatro épico de Brecht instigava o reconhecimento de situações cotidianas pelo espectador, e sua ação e tomada de decisão para mudá-las.
O trabalho de Bausch combina seu treinamento com Jooss na Escola Folkwang e como solista na companhia dirigida por ele, a Folkwangballet,6 com sua experiência das artes e dança em New York nos anos 60.7 Muitos dançarinos e coreógrafos norte-americanos reagiam então as técnicas de dança moderna, e juntavam-se a artistas plásticos e músicos na produção de trabalhos colaborativos, expressando preocupações sócio-políticas sobre os direitos humanos, o meio-ambiente, feminismo, e questionando o conceito de arte. Artistas pretendiam derrubar a separação entre arte e vida cotidiana, dançarinos/atores e platéia. As peças colaborativas envolviam movimentos e trajes da vida cotidiana, contra uma representação teatral formal e artificial.


"Escrever [e dançar] é tantas vezes
lembrar-se do que nunca existiu. Como conseguirei saber do que nem ao menos sei?
assim: como se me lembrasse. Com um esforço de memória, como se eu nunca tivesse
nascido. Nunca nasci, nunca vivi: mas eu me lembro, e a lembrança é em carne
viva."

Clarice Lispector

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